terça-feira, 30 de novembro de 2010

Mais do mesmo

Há pouco mais de um mês, ainda antes do segundo turno da eleição presidencial, escrevi alguma coisa sobre continuidade da política do atual governo federal. Neste intervalo temporal de transição da Presidência já ocorreu uma série de episódios bizarros: alguns que, até então, estavam fora de cogitação, como o retorno da CPMF (em tese) e a participação acionária de uma empresa pública em um banco privado que estava mal das pernas, mas estava tudo escondidinho, certo?; outros previstos, como o latente embate entre PMDB e PT no loteamento da máquina pública; alguns previsíveis, uma vez que já observada em 2009 a incompetência do MEC, na atual gestão, de organizar uma prova do porte do ENEM.

Sobre este último tema: a prova não é anulada, mesmo com vazamento de texto de uma das redações, pedaços de prova faltando, gabaritos invertidos. Erros nascentes da sede do Ministério da Educação, que repassou a matriz defeituosa das provas para a licitante vencedora realizar a impressão. Depois colocam a culpa em um dispositivo do edital que veda a verificação das provas após impressas, já que devem ser imediatamente lacradas. Antes desse argumento, dizem que é impossível averiguar mais de 3 milhões de cópias dos arquivos. Ademais, o MEC ainda diz que a responsabilidade pela verificação do padrão é da empresa contratada para imprimir. Brota, então, uma teoria com a pretensão de sobrepujar o princípio da isonomia. Uma série de argumentos contraditórios que não se sustentam, sendo que é patente o titular da responsabilidade. Após toda a lambança o Ministro é agraciado com indicações a outras pastas para a próxima gestão. É demais, realmente.

O caos já estava formado e sequer ocorreu a mudança da sua face. Atualmente está em pauta a ocupação de determinadas favelas no Rio de Janeiro, o que desde o início tem se mostrado um belo de um palanque. Quando foram hasteadas as bandeiras do Rio de Janeiro e do Brasil em um ponto alto do Complexo do Alemão, o que vislumbrei foi uma companheirada abraçada e de mãos dadas. Não se trata de palanquismo para um determinado partido, mas sim de um palanquismo liderado, por assim dizer, por um determinado partido. Como está na moda, vai de trem toda a aliança. Abro parênteses: avisar aos traficantes que a força militar está subindo para ocupar a comunidade? Será que eles já sabem qual será a última favela a ser ocupada? É estranho.

Tudo tem se mostrado como mais do mesmo. Teremos que agüentar esse cenário por mais 04 anos? A estrutura de um país sendo rapidamente digerida por uma espécie de, por assim dizer, corporativismo? Uma Administração com um aspecto turvo, da qual não se sabe exatamente o que se passa nas suas entranhas - é isso que temos. Figurões antigos estão voltando; os mais leais permanecem. Não me agrada nem um pouco esse modelo de gestão. Estranha-me muito que algum brasileiro tome a situação, ao menos com uma visão panorâmica, com satisfação.

Até mais!