quarta-feira, 8 de agosto de 2012

CN covarde.



O céu é o limite. Universidades públicas para estudantes de escolas públicas, negros, pardos e índios, retirando o filtro do vestibular. Os demais que se digladiem por uma vaga. Não vou nem entrar no mérito das cotas, apesar de ter posição definida! O ponto aqui é outro.

Aliás, faço uma reserva quanto ao mérito (a única neste ‘post’): muitos dos movimentos defensores de cotas nas Universidades públicas são tão intolerantes, radicais e preconceituosos quanto aqueles do lado diametralmente oposto. A intolerância, meus caros, é muito invocada por quem sofre cronicamente deste tipo de ‘pathos’. São tomados de uma arrogância, de um falso senso de legitimidade, e querem o tudo, o desproporcional, o injusto, o desarrazoado.

Vamos lá.

Não me espanta nosso Congresso Nacional: ressuscita antigos projetos de lei somente após o Judiciário se manifestar sobre um tema espinhoso. Daí amplia o entendimento – decide correr um pequeno risco. É um Legislativo covarde e inabilitado para se posicionar diante do que a sociedade demanda. Com medo de tomar medidas que sejam rejeitadas pela comunidade, “as cláudias sentam lá” e espera o Judiciário decidir a questão. Depois, basta reproduzir. Não é a primeira vez, e não será a última.

Ah, sim! E depois nossos representantes não querem que Ministro do STF recomende que o art. 52, X, CF, seja mandado para o espaço. Não se mexem e, quando tolhidos em alguma prerrogativa institucional, os membros do Congresso Nacional ficam ofendidos e alegam todas as teorias incidentes do princípio da Tripartição de Poderes e da usurpação de prerrogativas constitucionais. É uma verdadeira piada.

“Morte ao ativismo judicial”, dizem os tradicionais, inseridos em um sistema notadamente valorizador de precedentes; residentes e domiciliados em um ordenamento jurídico que cada vez mais privilegia cláusulas gerais e conceitos indeterminados a serem preenchidos de acordo com o caso concreto. Bom senso, camaradas!

Mudando de assunto, mas no mesmo assunto.

É uma lógica muito moribunda: autarquias são dotadas de autonomia. O legislador brasileiro, muito criativo, pari o tal contrato de gestão, que concede maior autonomia às autarquias que o celebrarem com o próprio Estado. Pare que está tudo errado!

Ou um ente tem autonomia ou não a tem. Não há autarquia com 50%, 30% ou 80% de autonomia. Dá-se vida à criatura e se diz: que seja livre. Tempos depois: você pode ser ainda mais livre? Autonomia = liberdade para as pessoas jurídicas de direito público.

Forma de intervencionismo estatal patético no próprio Estado! O que é ainda mais teratogênico é o fato dessa autonomia ser amplificada mediante a celebração de um contrato. Ora, se a autarquia é criada por lei, como ampliar suas prerrogativas mediante negócio jurídico? Há muitas viúvas de Celso Antônio Bandeira de Melo (alegria dos examinadores das bancas concursais) por aí...

Retornando.

Não satisfeito com essa lógica bizarra, há desejo proveniente do Congresso Nacional de estabelecer diretrizes, mediante lei, para empurrar goela abaixo das Universidades públicas os critérios de seleção dos seus alunos.

Agora é pop defender abertamente as cotas nas Universidades públicas. Insurgir-se-á alguém contra uma injustiça? Uma suposta injustiça? Uma injustiça historicamente construída

Nosso Congresso Nacional nunca teve tanta convicção em todos os tempos desde a última semana sobre a moralidade do sistema de cotas, quando o Judiciário decidiu, ao menos em partes, a questão.

Congresso Nacional covarde. Vergonhoso.

Até mais!

sábado, 19 de maio de 2012

Bienal Rubem Braga III


Aos que notaram, o acontecimento é voltado principalmente para o público infantil – você, que faz críticas ao trânsito, parou e leu a programação? A política adotada é pertinente, haja vista que é mais um incentivo aos pequenos a abrirem um livro.

Ah!: você, meu caro, quantos livros leu esse ano? Aliás, quantos leu durante toda a sua vida? Difícil responder, muito provavelmente porque leu pouquíssimos e mesmo assim não sabe quantos. Não falo aqui de livros científicos, com os quais deveria ter tido contato na época de uma eventual faculdade, digo daqueles triviais, que a professora deixava você escolher em sala de aula, assim como uns romances baratos que você encontra nas prateleiras dos supermercados.

Serve para reflexão – uma SEVERA reflexão.

Digo isso para quem teve/tem oportunidade. Para quem não teve/tem oportunidade o papo é outro, e não cabe nesta oportunidade escrever sobre. Ah, quem diz que o brasileiro lê pouco não sou eu, são as pesquisas – basta procurar no em ‘sites’ de busca. Ademais, não preciso dizer aqui os benefícios da leitura. Isso é amplamente divulgado e durante toda vida foi assim.

Na verdade, o incentivo à leitura ocorre sim, mas nesse campo o fomento nunca é demais. Acontece que falta iniciativa das próprias pessoas para abrirem um livro por acharem demasiado desinteressante.

Aquele que foi ao evento pode perceber que as ações montadas foram dinâmicas: teatros, apresentações, atividades interativas. Não ficou no lugar comum de apenas colocar ‘stands’ e deixar o povo percorrer o espaço armado para folhear livros. Havia auditório para algumas centenas de pessoas, foram realizadas oficinas. O público teve contato com escritores e cartunistas. E ainda tem gente reclamando que ficou 15 minutos a mais no trânsito. Deviam, sim, parar e ver o que o evento tinha a oferecer. Aliás, ainda está em tempo: termina amanhã.

Os autores que por aqui passaram, assim como artistas, são de destaque tanto na esfera regional quanto de âmbito nacional. De passagem, destaco que na última bienal esteve presente Moacyr Scliar, um grande expoente da literatura nacional. Alguém aí já ouviu aquela música dos Engenheiros do Hawaii, “Exército de um Homem Só”? Pois então, é baseada em seu livro homônimo. Ótimo livro, por sinal. Afinal, quem deu bola? Quase ninguém. Pouca gente reconhece o talento daqueles que não estão no ‘mainstream’. Corrijo: pouca gente (se considerada a totalidade) conhece aqueles que não estão no centro do palco.

Ninguém é obrigado a conhecer de tudo, assim como ninguém tem que conhecer aquilo que eu conheço. A beleza das coisas não reside nisso, mas sim em se buscar mais daquilo que se gosta.

Então, um boçal fica no sofá, assistindo programas que julga insossos, regurgitando críticas de como grandes veículos de comunicação condicionam o pensamento do povo, pouco percebendo que está sendo manipulado a fazer esse tipo de comentário. Enquanto isso, computador ligado, sendo a internet um ambiente LIVRE, no qual desfilam todas as correntes de pensamento. A preguiça e a falta de senso crítico tornam as pessoas, vá lá, desinteressantes, para não dizer outra coisa.

É o mesmo sujeito que diz que a qualidade da música está horrorosa, mas que não se dá ao trabalho de caçar alguma coisa independente para escutar. Fica em frente à TV e espera que caia em seu colo alguma coisa do tipo como Cazuza, Belchior e Mutantes, em uma época na qual se ensina e se acha bonito uma criança de 03 anos rebolar, e a valorizar a de 05 anos por ter uma voz bizarra, assemelhada a de um adulto; na qual o trabalho é menos valorizado que o jeitinho; na qual se acha graça andar atrás de uma artista com uma fita métrica para dizer que está respeitando ordem judicial de manter a distância. Mal percebe que está no lugar errado.

Então, elabora uma espécie de teoria da conspiração, fazendo, em última ‘ratio’, uma associação bizarra entre o trânsito congestionado e os seus 20 minutos a mais dentro do carro que escolheu, na companhia de quem optou e ouvindo aquilo que gosta, com uma potencial corrupção e desvio de dinheiro público para armar tendas para um evento cultural. Passam-se 05 minutos, e tece críticas sobre o aquecimento global, a crise econômica em países europeus e o seu time de futebol – tudo dentro de uma lógica suprema, afinal pensar em países europeus lhe dá 'status' ‘Cult’. Mais 03 minutos e no auge da imbecilidade tem certeza da corrupção, do desvio de verbas públicas, inclusive tem um amigo próximo que de tudo sabe, e ainda deduz que uma autoridade municipal tem casos extraconjugais. Patético. Bela teoria da conspiração!

Assim, o sujeito vive desconfiado, com uma síndrome de corno, sempre se achando enganado, tendo a certeza de que todo o político é corrupto, que toda goleira é frangueira e que todo viado é piranha. Em um lapso de sanidade pensa que nem todo político é ‘ladrão’, mas tampouco sabe separar um do outro, e acaba concluindo que salvam apenas dois ou três, mas que não sabe quem é. Não votará mais naqueles que votou nas últimas eleições, pois são safados, afinal, em seu imperativo categórico, em sua verdade suprema, um cara honesto, probo e trabalhador não o deixaria ficar mais 10 minutos no seu carro, com quem escolheu, indo para onde quer e ouvindo o que gosta.

Mas e se fosse a Valesca Popozuda, aquela figura, digamos, peculiar, a colocar seu o circo travestido de gaiola na praça central? Ou então o velho e cansado Durval, que naquela marchinha batida leva multidões aos seus shows? Ainda temos de Joelma e Chimbinha, que vivem entre tapas e beijos, de acordo com uma revista de fofocas ou uma senhora (ou senhor) gordo (gorda) que fica sentado (sentada) em um sofá falando dos outros? Bem, poderia ser diferente se fosse um avião ali parado, cheio de prêmios oferecidos por um programa de televisão em associação com uma outra empresa qualquer? Quem reclamaria dos 20 minutos a mais no carro? Na verdade, levaria quem não gosta, ouviria o que não queria e veria o que detesta, pois estaria indo para a patifaria.

E segue o pensamento do alienado. Tudo começou por causa de 15 minutos dentro do carro em razão de um evento cultural, realizado em um local estratégico para dar acesso ao maior público possível.

Misantropo, eu? Talvez. Posso ser a depender da ocasião. Cara, e nem analisei aqui o que é causa e o que é consequência das fraturas e mazelas sociais, o que viria bem a calhar. Falta tempo.

Até mais!

Bienal Rubem Braga II

 
Em uma música do Bad Religion consta a seguinte assertiva: “qualquer um pode se sentir como um vencedor quando a comida é servida quentinha”. Digo que é por aí, e sendo aí que reside a falta de bom senso.
 
Não é fácil ter seus interesses tolhidos. Ora, fácil eleger ‘n’ motivos para não admitir ser egoísta ou ter lapsos de egoísmo, posto que vício assombrosamente repudiado pela sociedade. Quem deseja assim ser visto? Muito mais fácil é jogar o piano nas costas da Administração municipal: a) autopromoção; b) falha de logística; c) espaços alternativos; d) entre outros.
 
E qual o motivo de tanta choradeira? Demorar um pouco mais para chegar a seja onde for: trabalho, boteco, casa da namorada, igreja, banco, casa do soca. Reclamação feita por proprietários de carros, em regra. São esses os que reclamam. É uma atitude natural, uma vez que o interior de seu veículo é um universo à parte: faz o que quer, entra quem permite, vê o que aprecia e escuta o que deseja. Andar um pouco a pé, jamais! Melhor não ir. Ridículo, mas é a verdade.
 
Dessa revolta surgem outros argumentos mais. Há quem diga, veja bem, que o prefeito perderá o próximo pleito eleitoral porque interrompeu o trânsito; que gostava da administração até a feitura da Bienal na praça. Faça-me o favor: se você lê esse texto e pensa assim, digo que você precisa rever os seus conceitos, para ser educado. Digo um motivo, dentre outros tantos que aqui não se fazem as vezes: o seu critério para a escolha do Chefe do Executivo está extremamente equivocado, posto que pautado por festinhas e putaria. Você é um péssimo eleitor. Seria ótimo se vivesse na terra do Pato Donald, pois lá seria ouvido e me pouparia de ler esse tipo de besteira.
 
Um comentário vem bem a calhar: digo (repetindo) que não tenho inclinação para qualquer partido político. Na verdade, em âmbito político-partidário acredito não mais haver ideologia que norteie as condutas. Existe, sim, em âmbito acadêmico. As vertentes ideológicas político-partidárias viram pó quando se está no poder, ante a conveniência e oportunidade. Isso tudo em regra: dificilmente se encontra um ‘núcleo duro’ nas diretrizes ideológicas de nossos representantes. Mentira? No mais, procure neste blog post no qual elogio o Partido dos Trabalhadores: se achar, fico agradecido, pois não me lembro.
 
O que vejo é a falta de sopesar valores e interesses. Falta ponderação. Ora, o que são 05 dias de trânsito engarrafado diante dos benefícios trazidos por evento de natureza cultural? A circulação de pessoas foi intensa, esquentou ainda mais o movimento no comércio da região, criou empregos, mesmo que temporários. Se você, empresário, tivesse estabelecimento no local do evento, faria um chororô? E você reclamando que ficou mais 20 minutos dentro do seu carro, sozinho ou com quem você escolheu e escutando o que você gosta. Fale isso, meu caro, para aquele que anda a pé ou encara coletivo lotado todos os dias. O seu mundinho enlatado não reflete sequer 10% do que se passa fora dele. Fica aí de espectador, fazendo a vida imitar o vídeo, de ouvidos grudados na CBN, isso se for culto (risos).

A mudança foi programada, avisada, veiculada, ventilada, jogada na cara de todos. Será que falta divulgação ou será que você não se interessa em saber o que se passa na cidade? Será que somente desgraças, enchentes e denúncias de corrupção chamam a sua atenção? Porra, atribua a você, na parcela que cabível, o seu desinteresse, a sua ignorância, a sua falta de bom senso de coletividade, a sua arrogância e o seu egoísmo. Pra casa do caralho.

Vale a nota: o trânsito em Cachoeiro não é dos melhores já em situações normais. A cidade cresceu sem planejamento – a culpa não é da Administração atual. Alguém vê solução de obras para as vias? Onde criá-las? Eu não vejo solução, a não ser desapropriação de lotes urbanos e a construção de vias elevadas. Isso é extremamente caro. Melhorias no transporte coletivo seriam uma ótima, mas não resolveriam os problemas. Tudo isso seria muito caro. Bem, sem falar que a educação passa longe do condutor de veículo cachoeirense. O ônus é somente do Poder Público? Você, camarada, constrói a sociedade. É bom lembrar disso.

Volto depois.

Até mais!

Bienal Rubem Braga I


Há alguns dias tento postar sobre isso, mas não tenho conseguido. Sobrou para o sábado. Vamos lá.

Difícil é presenciar um evento cultural em Cachoeiro. Além do mais, todos sabem que Cachoeiro não faz parte do circuito de grandes apresentações, seja qual for a sua natureza. Não obstante, esse evento de que trato tem raiz eminentemente cultural, e não somente voltada à diversão e entretenimento, como é a essência de muitos shows musicais.

Não me espanta que alguns reclamem da forma como foi organizada a Bienal: o trânsito de uma das principais avenidas da cidade foi interrompido parcialmente (os deslocamentos passaram a demorar mais) e foram instaladas tendas na praça central do município. Como disse, isso não me causa estranheza, mas sim a falta de bom senso de parte da população cachoeirense.

Há críticas, mas devem ser pensadas. Como é recomendando, o discurso é encabeçado pelo argumento mais forte. Nesse caso, o mais forte e duro. Vejamos no próximo post.