quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Colegas coloridos

Hoje acordei e decidi escrever sobre outra área de interesse: música.

Levantei e me propus a escutar o tal do Restart – escutar de verdade, somente para ter mais argumentos de que se trata de uma porcaria. Para quem não conhece, trata de uma banda de adolescentes no estilo emocore e seria redundante discorrer que o som é feito para adolescentes e crianças entrando na fase das espinhas. Andam com roupas coloridas, com cabelo esquisito e amam todo mundo, mesmo que esse tal de todo mundo esteja pisando a cabeça deles.

Fui ao youtube para ver alguns vídeos. Confesso que, apesar da força que fiz, não consegui escutar mais que 5 minutos daquilo. Então, parti para ler os comentários deixados pelas pessoas que conseguiram lograr a empreitada. É de decepcionar. Meu pai me dizia, quando eu tinha lá meus 13/14 anos que “adolescente tem cara de bundão”. Não concordava, afinal eu era um deles. Contudo, hoje tenho que reconhecer que é a verdade, ao menos na maioria dos casos.

Está certo, talvez seja uma das primeiras experiências musicais autônomas desses seres, ou seja, que param e escutam de verdade alguma coisa sem estarem submetidos à ditadura paterna no universo particular chamado automóvel. Entretanto, por mais que seja símbolo de um início de independência, na verdade estão servindo de público pelas imposições da “mídia” e ainda não tem capacidade suficiente para entenderem isso. Afinal, recentemente a banda supracitada recebeu dezenas de prêmios em um festival de uma renomada rede televisiva, que em seus primórdios se dedicava a levar à TV gêneros e bandas não ventilados na rede aberta e até mesmo pouco difundidos nas rádios brasileiras. Não é preciso falar do jogo de interesses e que os prêmios de “melhores de qualquer coisa no Brasil”, que sejam, são concedidos somente àqueles melhores então tutelados pelo grupo de empresas, isto é, patrocinados pelo “cartel”, esquecendo-se, convenientemente, dos demais. É pura arrogância e hipocrisia fazer e se achar nesse papel, mas que interesse privado que tenha por objetivo atingir massas não é passível de ter essas características? A renomada rede referenciada, que antes era vista como um signo de alternatividade, hoje faz parte, indiscutivelmente, do pastelão que é o sistema do gênero. Adiante.

Voltando aos comentários. Os escólios cingem-se à homossexualidade, orgias, palavrões, declarações de amor e coisas que não acrescentam em nada no dia de um sujeito. Perdi uns válidos 10 minutos do meu dia, que nunca mais voltarão, claro! O interessante é observar que avocam para si os estigmas do rock’n’roll. Bem, aí entra a minha conveniente intolerância.

Não há que se discutir que Restart é rock – por mais doído que seja admitir isso, mas os azes do estilo estão em um supra plano que ignora totalmente a existência de bandas emo: essa é mais pura verdade, colega colorido. O estilo foi desenvolvido, historicamente, em um ambiente de revolta, seja com a sociedade, seja com o próprio ambiente particular de cada qual. Um dos motivos da fraca safra de bandas do gênero é justamente esse: não têm com o que se revoltar ou então não atingiram um nível de loucura capaz de os tornarem, no mínimo, criativos. Eu diria que na América do Sul, talvez a Venezuela seria o campo mais fértil para a proliferação do rock’n’roll. Compreendem? Portanto, o que resta a essa safra? Amar todo mundo, escrever letras que têm por símbolo um amor platônico ou uma dor de cotovelo, ganhar ursinhos de pelúcia de presente, falar errado e ser admirados como seres inatingíveis por fãs de 12 a 15 anos. O fogo que fez as bandas de rock nacional, dos anos 1980 e início dos anos 1990, se manterem não mais existe – indiscutivelmente o período mais produtivo do gênero em nível de Brasil. Até na Bahia se fazia rock’n’roll de qualidade – olha o Raul aí.

Um efeito, claro, é o seguinte: com essa nova safra, o rock’n’roll que era encarado como um “eca”, agora é visto como um “bacana”. Uma falsa percepção da realidade, contudo.

Portanto, é mais que natural a rejeição a essas novas bandas. Eu as rejeito, peremptoriamente, sem titubear. Não há qualquer contribuição no cenário musical por grupos desse tipo, são um nada artístico, um zero à esquerda. O fundamento é apenas a diversão e fazer algum dinheiro. Não existe revolta, indignação e muito menos boa música. É profundamente triste admitir a existência desse tipo de banda no rock nacional, porque em nada contribui, promove uma alienação em massa, produz música de péssima qualidade, são promovidos pela “mídia” sem fazer muita força. Enquanto isso, quem realmente tem algo para mostrar não tem espaço, pois pouco interessa o trabalho e o esmero dos verdadeiros músicos: o que interessa é aquilo que vende mais, o que é comercial. Manter a população nesse plano de, digamos, alienação, interessa muito mais.

À guisa de exemplo: Festival de Música de Alegre. Nas mãos erradas conseguiram erradicar um evento tradicional no tocante à premiação de artistas que procuram espaço no cenário musical brasileiro, transformando tudo em uma grande micareta, com shows musicais de 40 minutos. O chamado palco livre foi execrado, pois o povo de abadá não curte isso, mas de “pegação”, carro de som e outras coisas que te levam a dimensões quase intangíveis. Transforma-se tudo em uma bola de neve – redonda e homogênea. Nas mãos erradas o festival quer a presença somente um tipo de público: aquele que paga e só, afastando a parcela que se diverte com aquilo que não é usual. É patético escutar comentários como “tem que acabar mesmo com a premiação dos artistas”. Algo que ocorria há vinte anos ou mais, consecutivos, e que atraía músicos de todo o Brasil, alguns até de fora do país. Pessoas com esse tipo de mentalidade merecem, quando forem cassar uma forma de trabalhar, receber resposta equivalente. Enquanto se está no ar condicionado e tomando sorvete tudo é mais tranqüilo. O interesse privado, sob uma ótica SOMENTE egoística, tem a capacidade de frustrar a esperança no ser humano.

Enfim, é preciso garimpar para achar algo de bom. Não é correto ou justo jogar todas as bandas dessa safra em um mesmo balaio, de modo que posso afirmar que existe boa coisa sim, claro. Da mesma forma existem festivais de música nos quais as pessoas vão com o interesse de, vejam bem sertanejos, micareteiros e equivalentes, ouvir música. Espera-se que esses ambientes não sejam tocados pelos interesses coloridos e pela música baiana. Salve-nos do “cumpadi wóxinton” e do seu bicho da cara preta.
Acabei viajando no assunto. Mas é isso aí.

Até mais!

4 comentários:

  1. MUITO BOM ! Adorei o seu blog ! Visite o meu blog sobre tênis e retribua o comentário ! : breakpointbrasil.blogspot.com/ - SIGA MEU BLOG E MEU TWITTER, que eu sigo o seu de volta !twitter @breakpointbr, caso queira seguir. Se puder me LISTE :-)

    Obrigado !

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  2. Sinceramente,essa galera está mais preocupada com roupinha colorida do que com música.Falou tudo!

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  3. Tenho fé que apareçam novas bandas com o estilo antigo!

    Estou precisando das loucuras vivenciadas com as bandas antigas, com os shows malucos e a doiderada que nossa "era" provocava!

    É, estamos velhos, viva a old school"

    Fora isso, ta morando em Vitória ainda, camarada? Quando vamos beber aquela breja gelada que há tempos não fazemos! Abraço, mande noticias!

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  4. Cara, há muito tempo não leio uma crítica ao cenário musical tão bem elaborada e trazida para o que temos vivido aqui no Estado. Mais exato no Festival de Alegre.

    parabéns

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