terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

"Festa no 'apê' da Dona Democracia"

Estamos em ano eleitoral - o que todo mundo sabe. O que todo mundo também sabe, por mais óbvio, repisado e patético que pareça, é que o povo brasileiro, e aqui não falo somente das classes mais pobres (C, D, E, F... Z - são tantos os níveis de pobreza que nem sei!), tem uma péssima, diria, "cultura" - ou seria melhor mania? -, de votar na pessoa, no candidato, sem avaliar as propostas. Lógico que votamos no candidato, no representante, não sou alienado, mas digo que, em geral, vota-se no colega, no amigo, no cara da cesta básica no momento do corpo a corpo, no mais bonito. E o critério quanto às propostas? Cadê?

É claro que também é critério para avaliação a pessoa do candidato, a sua reputação, o seu histórico, a sua honradez. Mas fosse somente por isso teríamos como elegíveis somente as figuras santas. Por outro lado, Sérgio Mallandro e Frank Aguiar já se deram bem na "Festa da Democracia" - diria que periodicamente o "apê da Dona Democracia está bombando". Festa mesmo, diria circo, quando paro para ver uma propaganda eleitoral e me deparo com "Chupeta", "Pombinho", "Não sei quem do gás", com um fulano sentado em uma moto e outro buzinando. Ah sim, não posso esquecer daqueles que fazem o número rimar com o nome para ficar mais fácil de gravar - uma verdadeira masturbação mental. É subestimar demais a inteligência do povo - e fazem isso na certeza do êxito.

Não se trata de discriminação ou preconceito. Trata-se de uma percepção, logo de plano, que o sujeito não presta para o que está se propondo. Aliás, quer saber? Preconceito sim, e aqui na boa acepção. Boa? Sim, boa, além de útil. Percebe-se que vencer o pleito é sinal de garantir o sustento, e, definitivamente, não é este o fim da representação democrática republicana.

"Ah, não gosto do PSDB, mas votei no Serra! Aquela careca é muito simpatica!". Haja paciência.

Contudo, a conta não é só do eleitor. Na verdade existe a manutenção de uma situação tão precária que para muitos votar é sinônimo de favor, contrapartida. Além do mais, sabe-se que as mudanças bruscas no cenário político não costumam ser tão salutares. "O Filho do Brasil" aprendeu isso rápido, e hoje é um verdadeiro recordista: "Nunca na história deste país..." - hipocrisia. Ano eleitoral é ano inseguro, temerário: alguns se dão bem, poucos se dão muito bem e muitos se esfolam. Mas como penso, é consequência de um ciclo vicioso, e brecar isso é extremamente complicado e possivelmente nocivo à sociedade.

Sem contar que o costume é histórico.

Mas e aqueles que não dependem de favores para ter a vida um pouquinho aliviada? Os que efetivamente podem promover alguma coisa boa nesse campo? Ah sim, preguiça mental; o horário eleitoral é na hora da pelada ou então é a hora de tomar banho; "coporativismo" barato; coleguismo; segundas intenções; voto no que a maioria votar; e mais um punhado de justificativas que podem ser pensadas sem precisar de bola de cristal. Tudo está em um sobreplano, e por baixo e por último estão as propostas do candidato. Quem faz a propaganda mais bonita e mais movimentada, enfim, quem promove o maior espetáculo está léguas a frente.

O pior de tudo é a cara lavada ao admitir que a preguicite pegou pelo pé. Em um momento posterior, se o sujeito armou alguma, o subterfúgio é "ainda bem que não votei nele" ou "votei de qualquer jeito mesmo". Ah sim, tem aquele ataque histérico de moralismo: "É tudo ladrão (ops)! Se eu pego um sujeito desses...". Como se explica esse vácuo de consciência? Tem alguém aí dentro?

Infelizmente não consigo reduzir todos os motivos do problema aqui neste texto - pelo menos os que eu acho que são de tal natureza.

Não me conformo com tudo isso, e tenho que me contentar/felicitar em mais uma vez ser a minoria: enxergar o regime democrático não somente como aquele em que se escolhe os representantes, mas principalmente por ser o que faculta retirar a malandragem da teta da vaca por um processo anteriormente estabelecido, ou então não dar nova chance a este populacho.

Para esse tipo de "cultura" eu digo: "Aqui não, jogador!".

Até mais!

2 comentários:

  1. Muito bom, Léo ! Gostei muito de sua abordagem.Foi uma grata surpresa !
    Manoel

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  2. Léo, já reparou na ausência de propostas? Realmente não temos opções de propostas. Os partidos políticos, na ânsia de conquistar mais espaço e eleitores, vão abrindo mão da ideologia. Vide nosso querido molusco. Vide o DEM, que supostamente está mais à esquerda no espectro político, mas na prática não sai daquele mesmo programa do PT, do PSDB... PMDB, nem se fala. No último pleito o PSDB não teve colhões para defender as privatizações feitas no governo FHC. E por aí vai.

    Realmente, a política aqui dá preguiça, porque não há debate de idéias. É até compreensível que as pessoas se identifiquem mais com as pessoas dos candidatos do que com as propostas.

    Tem um livro sobre isso que parece interessante (http://publifolha.folha.com.br/catalogo/livros/145141/). Comprei e ainda não li. Quem sabe depois disso dá pra entender melhor a cabeça do eleitor brasileiro?

    Keep posting!

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